10 julho 2011

Contra-senso Existêncial...

Quando crescemos a acreditar que não somos suficientes ou especiais,
Desenvolvemos a capacidade de dar a volta à ausência dessas características
Forjando armas que nos defendem e protegem da tristeza que é acreditar não se ser suficiente ou especial para quem mais amamos…

E são essas armas que passam a acompanhar-nos sempre,
No nosso dia-a-dia, nas nossas lutas e conquistas.
Mas ao longo desse caminho de luta
Parece haver sempre algo dentro de nós que nos puxa para baixo…
Como que para nos lembrar e confirmar que se não fomos suficientes nem especiais para quem mais amámos na nossa infância,
Então também não poderemos nunca o ser para mais ninguém para o resto da nossa vida…
Nem para nós mesmos…

Contudo, há uma força intempestiva que nos faz lutar contra essa crença,
Contra esse sentimento demasiado doloroso e intolerável.
E é por isso que continuamos a procurar corrigir essa insuficiência,
Almejamos um dia sentir o que nunca sentimos,
E seguimos estoicamente em frente pela vida como uma força da natureza,
Nessa busca aparentemente interminável de conquistar um paraíso nunca tido!

É um duelo de titãs,
A vontade de vencer por um lado,
O boicote incessante que teima em nos lembrar que não merecemos essa vitória,
Que teima nos confirmar que há uma razão para não termos sido suficientes e especiais, esse peso imenso que é a culpa,
Uma culpa sem nome, sem razão, sem consciência…
Sabotadora das nossas pequenas e grandes conquistas,
Anos e anos a fio…

Mas eis que um dia vislumbramos a vitória,
Sentimos-lhe o cheiro, o calor,
Maravilhamo-nos com o seu brilho,
De facto já a conseguimos tocar,
Quão desejado foi este momento!

E é então que nos apercebemos que está na altura de baixar as armas,
Está na altura de deixarmos de ser guerreiros,
De podermos passar a usufruir dos tesouros conquistados com tanto sofrimento!

Esse dia tão sonhado, tão apetecido…

Mas em vez da alegria rejubilante que esperávamos sentir,
Deparamo-nos com uma tristeza imensa…
Uma angústia sufocante…
Invade-nos uma mar tumultuoso de sentimentos que nos desorientam,
Que quase nos tiram o norte,
Que quase nos fazem voltar a cair nas garras dessa culpa sem razão!

Como existir sem as minhas armas?
Quem ser senão guerreira?
Para onde foi a zanga, a raiva, o motor da minha força?
Como preencher uma existência de paz?
Como ser sentindo-me suficiente e especial?
Apercebo-me que não sei ser mais que guerreira, sinto-me perdida…
Como se tanto tempo nesta guerra nada mais me tivesse ensinado!
Como se não soubesse existir sem batalhas para travar!
A dor e a luta, a estratégia e a alerta,
A zanga e a raiva, o medo e o sonho,
Eram tudo o que tinha…
Eram tudo o que sabia fazer…
Eram tudo o que sabia ser…

Eis que cheguei onde sempre quis chegar…
E apesar desta tristeza, sei-me feliz…

Apenas terei de dar tempo a mim própria…
Tempo para descobrir como é viver assim…
Sem guerras, sem lutas, sem boicotes ao meu paraíso.
Descobrir simplesmente o prazer de poder usufruir da minha vitória,
Pois tenho uma vida inteira para viver,
E sei agora que não quero ser mais guerreira…

Entrego-me à descoberta de ser quem nunca imaginei que poderia ser…
E estou grata por isso…

Sem comentários:

Enviar um comentário